terça-feira, 10 de agosto de 2010

By Clarice Lispector


"Tenho várias caras. Uma é quase bonita e a outra quase feia. Sou um o quê?! Um quase tudo.”

“Mas lembre-se que se me julga pela aparência, sou apenas o reflexo de sua ignorância.”

“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.”

“Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.”

“Sou composta por urgências, minhas alegrias são intensas, minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos.”

“Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina, e vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar.”

"Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então."

“Curioso não saber dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar, não só não exprimo o que sinto, como o que sinto se transforma lentamente no que digo."

“Toda vez que eu faço uma coisa com intenção não sai nada, sou portanto um distraído quase proposital. Eu finjo que não quero, termino por acreditar que não quero e sóentão a coisa vem.”

“Tenho a alma muito prolixa e uso poucas palavras. Sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calmo e perdôo logo. Não esqueço nunca, mas há poucas coisas de que eu me lembre.”

“Eu só sei uma coisa: sou pungentemente real; e que estou na vida fotografando o sonho. Qualquer um pode sonhar acordado se não mantiver acesa demais a consciência.”

"- Quer dizer que você bebe água para não morrer. Pois eu também: escrevo para me manter viva."

“Só me interessa o que não se pode pensar. O que se pode pensar é pouco demais para mim.”

“O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser.”

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

“Eu não sei muita coisa, mas tenho a meu favor tudo o que eu não sei.”

“E quando mesmo assim não tenho coragem, então eu sonho.”

“Quanto a mim sempre conservei uma aspa à esquerda e outra à direita de mim. De algum modo “como se não fosse eu” era mais amplo do que se fosse.”

“Enviei o meu anjo para aparelhar o caminho diante de mim e para avisar às pedras que eu ia chegar e que se adoçassem à minha incompreensão.”

“Pois só quando erro é que saio do que conheço e do que entendo. Se a verdade fosse aquilo que posso entender – terminaria sendo apenas uma verdade pequena, do meu tamanho.”

“A realidade é delicada demais. Só a realidade é delicada.Minha irrealidade e minha imaginação são mais pesadas.”

“Timidamente transpassar por uma doçura que me encabulava sem me constranger.”

“Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior – é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido.”

“Que vontade de fazer uma coisa errada. O erro é apaixonante. Vou pecar. Vou confessar uma coisa; às vezes, só por brincadeira, minto. Não sou nada do que vocês pensam. Mas respeito a veracidade: sou pura de pecados.”

“Eu adivinho coisas que não têm nome e que talvez nunca terão. É. Eu sinto o que me será sempre inacessível. É. Mas eu sei tudo. Tudo o que sei sem propriamente saber não tem sinônimo no mundo da fala, mas enriquece e me justifica.”

"A única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais..."

“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.”

“Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.”

“E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar.”

“Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.”

“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

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