Nascer carioca é nascer com a vontade de curtir
carnaval incutida na alma. Não é vontade que dá depois que te influenciam. E
muito pelo contrário, no início da vida as pessoas te podam, te limitam e te
fazem acreditar que carnaval é tudo aquilo que você pode acompanhar pela
televisão. Não é.
Nos meus primeiros anos, lembro de “curtir”o carnaval
no interior do Rio de Janeiro, onde meus avós paternos moram. Minha mãe, toda
zelosa que é, colocava em mim uma fantasia diferente em cada dia de “folia”, e
me enfeitava toda, pra quê? Admirem-se! Para enfeitar a sala de estar! Porque
dali, meu amor, eu praticamente nem saía. Era um tédio, assumo.
Só concordo que foi uma experiência proveitosa no
sentido de conhecer o carnaval do ponto de vista da Sapucaí, tipo ativista de
sofá. Aqueles carros alegóricos esplendorosos, luxuosíssimos; toda a purpurina
do mundo presente num mesmo evento, plumas e paetês para esbanjar, e musas com
corpos que toda brasileira merecia ter, mas nem sempre tem (inclusive eu). Eu
assistia pela televisão, e também já assisti pessoalmente.
Posso dizer que carnaval não se resume em assistir,
mas em participar e sentir. Não adianta o carnaval estar passando, e você não
passar por ele. Aí se tornaria época comum, cheia de afazeres inadiáveis e
preocupações estarrecedoras. É depois do carnaval que o ano realmente começa.
Então use esses dias para recarregar as forças e energia boa que o resto do ano
tende a sugar.
É época de acordar e ir levando o dia sem ter hora
para dormir de novo. É nem dormir, mas cochilar só enquanto o celular está
carregando. É não perder tempo escovando o cabelo, porque você vai pingar de
suor embaixo do sol. É esquecer de almoçar e descobrir que só tomar um
milk-shake na rua não te tira a fome. É aprender os seus limites como um todo:
de álcool, de andar a pé, de segurar o xixi, de fazer amizade na fila do
banheiro químico, de sentar na areia porque não consegue mais ficar em pé, de
ser feliz em um metrô lotado voltando pra casa depois de um dia feliz e mega
cansativo. É anotar um contato na agenda e depois não saber de quem era. É
depois ligar pro número pensando que vai desencalhar, e descobrir que é só o
telefone da pizzaria que você queria saber se entregava no meio do bloco. É
aprender que colegas distantes podem ser amigos de carnavais e se divertirem
muito juntos. É ter limites de conduta, mas não ter limites para ser feliz.
Sim, isso é plenamente possível! Lembrando que tudo, absolutamente TUDO,
consegue ser romântico dependendo do ponto de vista.
(Aline M. Abdalah)
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